Os motivos para imigrar são fortes o bastante?
Não são poucas as vezes que somos bombardeados com notícias de crimes bárbaros, corrupção e privilégio para quem detém o poder.
Aliás, em um dos artigos que fiz mencionamos a posição vergonhosa do Brasil no ranking de países mais seguros do mundo, se não leu, tire um tempo para ler aqui, Por que imigrar?.
Isso em muitas vezes nos deixam abalados e preocupados com o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos.
Claro, esse sentimento de impotência, insegurança e de raiva não acontece com todos, isso é um fato, mas se você é uma das pessoas que se afetam com esse bombardeio, fatalmente já passou pela sua cabeça se você está no lugar certo.
E hoje, com a geração de inúmeros influencers digitais espalhados pelo mundo, é fácil se identificar com algum país ou alguma região que lhe deixe com vontade de ir para outro lugar, muitas vezes desenhado como um paraíso.
Mas você de fato já se viu nesse paraíso desenhado na sua cabeça? Ou melhor, já se imaginou vivendo em algum desses países mostrados em algum canal de mídia social?
Muitas, mas muitas pessoas criam uma ideia de que viver em outro país é a oitava maravilha do mundo e a frustração é tão grande quanto a expectativa criada.
Obviamente que a falta de planejamento é o primeiro ponto que atinge quem decide imigrar da forma errada, pois logo de início percebe que todo aquele mundo encantado não existe, mas esse não é o foco deste artigo.
O que queremos é te passar o nosso conceito do que deve ser levado em conta ao decidir imigrar, como disse, é o nosso conceito (meu e da minha família), provavelmente para você a realidade é diferente, mas a ideia é dar um ponto de vista diverso.
A decisão de imigrar é um passo grande na sua vida e desmonta a estrutura que existe até hoje em sua volta.
Logo, o mínimo que você deve fazer é pontuar de forma clara o que te motiva a querer imigrar e o que te desmotiva a isso.
Como assim?
Em um pedaço de papel ou em algum editor de texto escreva todos os motivos que te fazem querer sair da sua zona de conforto, todos, sem exceção.
Depois, trace uma linha divisória e escreva todos os motivos que o fazem feliz hoje onde você está e/ou o que você irá perder ao estar em Portugal, por exemplo.
Vou tentar explicar melhor.
Você pode escrever como motivação: “sensação de ter mais segurança”, “filhos terem uma educação melhor”, “respeito com as pessoas no transito”, “custo de vida menor”, “viver em um país de primeiro mundo”, “não ficar tão refém do poder público com a falta de infraestrutura na minha cidade”, “não ter que pagar tanto pelos serviços básicos para ter atendimento na educação e saúde”, “respeito pela minha profissão” e “obter uma especialização internacional”.
Veja que citei algumas coisas, umas podem possuir um impacto grande como “não ter que pagar pelos serviços básicos” e “filhos terem uma educação melhor”, mas outras não carregam um peso tão grande como “respeito com as pessoas no trânsito” e outras são medias como “respeito pela minha profissão”, “obter uma especialização internacional” e “viver em um país de primeiro mundo”.
E aqui vem o maior conceito disso, talvez para você algumas das coisas que eu citei tenham um impacto enorme ou sequer mereciam ser citadas, e é por isso que você tem que criar a sua lista.
O próximo passo é dar pontuações aos itens, numa escala de 0 a 5, 0 a 100, você que define isso, e anota a pontuação na frente das suas motivações.
Enfim, agora você tem uma lista do que lhe motiva, mas ainda não acabou, é preciso escrever o que você sentirá falta estando em outro país e o que você irá perder estando tão longe.
Na minha lista escreveria, “estar longe da família”, “queda brusca da renda”, “deixar de lado algumas conquistas patrimoniais”, “ter que recomeçar na profissão”, “falta de convívio com minha rede de amizade”.
Faça a mesma coisa com a lista de pontos negativos, criando pontuações para cada item.
Agora você tem uma lista do que são as suas motivações para imigrar e o que você provavelmente perderá ou deixará de ter ao estar em outro país.
E é nessa hora que você vai conseguir enxergar se os seus motivos são tão fortes que poderá valer a pena tomar essa decisão de imigrar, pois se os pontos negativos forem mais fortes que os pontos positivos certamente você se arrependerá muito.
E não é só isso.
Sabe aquela sensação de vitória, de conquistar alguma coisa depois de um sofrimento para continuar na trajetória até de fato obter o que queria?
Vou tentar exemplificar, quando decidi fazer a faculdade de direito eu tinha que ir para uma cidade vizinha onde estava a faculdade, que fica mais ou menos 1 hora e meia de onde morava, tinha que ir de ônibus ou carro por 1 hora e meia, numa pista ruim, pegava uns 20 km de BR116, todo dia a noite, ida e volta.
Lembro que tive a sorte de ter uma chance de ir de carro, mas eu tinha que dirigir, o carro era de um amigo, mas esse amigo não podia dirigir em virtude de uma limitação física dele e as pessoas que iam conosco não dirigiam a noite em pista.
O que acontecia é que todo dia eu que dirigia e quando retornava, como eu morava em outro bairro eu tinha que caminhar mais uns 20/30 minutos para chegar em casa, no frio, na chuva.
No começo foi difícil, cansativo, e logo no primeiro ano eu ficava pensando que aquilo era necessário para eu alcançar alguma coisa para mim e muitas vezes no fim do dia eu lembrava que faltava menos um dia para o meu objetivo.
Quis contar isso para mostrar que o que não fez eu desistir de cursar a faculdade era que os motivos que me levaram a cursar direito eram muito maiores daqueles que queriam me deixar na zona de conforto.
E a comparação com o ir para faculdade é para mostrar que a resiliência é o mais importante, pois uma faculdade de direito possui 5 anos de curso, ou seja, o planejamento para alcançar algo tem que ser seguido sempre, mesmo que demore muito tempo para ser conquistado.
Para imigrar é a mesma coisa, seus pontos fortes precisam ser fortes o bastante para que você continue tentando quando passar por momentos ruins em Portugal, pois esses momentos virão com toda certeza e você precisará se apegar ao que te fez estar lá para se manter no seu objetivo.
Não que você não possa desistir mesmo tendo pontos fortes, mas sim que você possa ter resiliência para continuar se achar que valerá a pena o seu esforço, pois imigrar não é passear no parque.
E claro, essa é a primeira parte de todo o conceito em querer imigrar, pois são através desses pontos que você irá descobrir se a imigração é somente uma ideia distante ou é um fato real.
A segunda parte vem com o planejamento, a parte documental, financeira, psicológica.
Se tiver interesse falei um pouco sobre isso no artigo “O que preciso para saber imigrar”.
Mas esse é um assunto para outra hora.
Então, tenha cravado na sua cabeça o que te motiva para querer imigrar, para que não de um passo sem ter a certeza de que está fazendo o que você quer de verdade.
Abraços e obrigado por ler.